Começou ontem, em Glasglow, a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, também conhecida como COP26 - edição 26 da conferência das partes. Durante as próximas duas semanas, centenas de líderes mundiais vão reunir na cidade escocesa a fim de chegar a compromissos.
A Cimeira do Clima - um encontro anual que junta vários líderes mundiais para debater soluções para a crise climática - vai decorrer na cidade de Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro.
A organização deste ano é dividida entre o Reino Unido e a Itália. Até ao momento, estão inscritas mais de 30 mil pessoas a representar governos, empresas, organizações não governamentais (ONGs) e grupos da sociedade civil.
Ainda que a pandemia continue a representar um desafio na organização de eventos de grande magnitude, os anfitriões desta edição do COP26 defendem que a ação pela crise climática não pode esperar. A vacinação é encorajada nos participantes e o Reino Unido executou um programa para distribuir vacinas aos participantes que vivem em países que não as conseguem adquirir. Além disso, estarão em vigor protocolos rigorosos de testagem.
O que é a Conferência de Partes (COP)?
COP é a sigla alusiva à Conferência das Partes, inserida na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC na sigla inglesa). Esta tem origem num tratado feito entre 196 países e a União Europeia (UE), no ano de 1994. Nas COP são desenvolvidas negociações complexas, com a participação de vários atores políticos de todas as nações envolvidas.
Destas reuniões anuais surgem estratégias para combater as alterações climáticas e são estipuladas regras básicas com o fim de alcançar os objetivos climáticos. Até à data, foram fruto destas negociações documentos como o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris.
A estrutura da cimeira
A conferência vai decorrer em duas zonas. O evento principal vai decorrer na Zona Azul, localizada no Campus de Eventos Escoceses, um espaço gerido pelas Nações Unidas. É nesta zona que as negociações são organizadas e a entrada é limitada pelo secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. A segunda zona - Zona Verde - é localizada no Centro de Ciência de Glasgow e gerida pelo Governo do Reino Unido. Aqui, a entrada é aberta ao público e vão decorrer eventos, exposições, workshops e palestras para promover o diálogo e a educação acerca das alterações climáticas e dos respetivos compromissos a serem estabelecidos a nível mundial.
Durante as negociações, está incluída a presença de observadores, que abrange agências das Nações Unidas, organizações intergovernamentais, ONGs, grupos religiosos e jornalistas. Estes não integram a negociação formalmente, mas podem intervir de modo a ajudar a manter a transparência.
Além das negociações oficiais, haverá uma conferência, um pavilhão e milhares de eventos paralelos. Estes vão ser divididos em dias temáticos explorando tópicos como finanças, energia, juventude e fortalecimento público, natureza, adaptação, género, ciência e inovação, transporte e cidades.
Os objetivos da COP deste ano
Os grandes objetivos são a redução das emissões de carbono e o controlo, a manutenção do aquecimento global e, além das negociações formais, espera-se o estabelecimento de novas iniciativas para por em prática a ação climática. Ainda assim, para o encontro deste ano, são quatro os pontos principais a serem discutidos, de acordo com a página da Organização das Nações Unidas:
- Assegurar a eliminação das emissões de carbono a nível global até meados do século e manter a meta de não ultrapassar o aumento da temperatura global em 1,5 °C. Para isso, é necessário que haja uma eliminação do carvão, redução da desflorestação e implementação de economias mais verdes;
- Desenvolver meios para proteger as comunidades e habitats naturais, sobretudo de países já afetados pelas mudanças climáticas;
- Mobilizar finanças; na COP15, as nações mais ricas prometeram canalizar 100 biliões de dólares por ano para as nações com menos recursos, de modo a ajudá-las a adaptar-se às mudanças climáticas. Essa promessa não foi mantida e, por isso, o encontro deste ano é essencial para assegurar fundos e estabelecer novas metas de financiamento climático a serem atingidas até 2025.
- Trabalhar em conjunto: estabelecer colaborações entre governos, empresas e sociedade civil e finalizar o Livro de Regras de Paris para tornar o Acordo plenamente operacional.
O papel crucial da COP num momento de crise global
Com o Acordo de Paris, elaborado na COP21, foram estabelecidas metas para desacelerar a crise climática. No entanto, até à data, estas não foram cumpridas e o tempo para o fazer está a esgotar-se. No caminho para travar o aumento da temperatura, é necessário atingir a neutralidade carbónica até 2050, isto é, o valor nulo de emissões líquidas de gases com efeito de estufa (GEE), considerando o total nacional de emissões que constam no inventário submetido no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC). E, para conseguir atingir esta meta, é necessário agir desde já.
De acordo com a página das Nações Unidas, continua a existir o risco da temperatura global aumentar pelo menos 2,7 °C neste século, mesmo se as metas do Acordo de Paris forem cumpridas. Com isto, aumenta também o risco de incêndios florestais, perda de habitats, períodos de seca mais frequentes e elevação do nível do mar. Para poder ter chance de limitar este aumento da temperatura, é necessário reduzir as emissões de gases de efeito de estufa para metade nos próximos oito anos.
A crise climática representa um problema urgente. As consequências podem ser fatais para a humanidade, como tem vindo a ser repetido pela comunidade científica, pelas próprias Nações Unidas e por vários movimentos espalhados pelo globo. E, nos últimos anos, estas reuniões não têm causado impacto suficiente. Ainda que se tenham posto em prática algumas medidas, como o aumento da utilização de energias renováveis, ainda carece ação para atingir as metas necessárias.
Como tal, a existência desta COP é crucial para o desenvolvimento de planos de redução drástica de emissões de GEE. Espera-se que as partes mostrem planos de ação ousados e sobretudo ambiciosos, que se reflitam nas contribuições nacionais determinadas (NDC, na sigla inglesa).
Durante o dia de hoje, Boris Johnson discursou na abertura da cimeira, referindo-se a esta crise como uma "máquina do apocalipse" que é preciso desarmar. O primeiro-ministro britânico sublinhou que a "raiva e impaciência do mundo serão impossíveis de conter" caso os líderes mundiais não cheguem a consenso sobre medidas de contenção das alterações climáticas.
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