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Foto do escritorO Ardina

A Saúde Mental dos atletas: do estigma à discriminação

No presente, a ideia do "atleta perfeito" está interligada com as características que se esperam de um homem heterossexual típico. Assim, muitos atletas LGBTQ+ sofrem de discriminação ainda antes de assumirem a sua sexualidade.


Para Jorge Gato, muita da discriminação a que se assiste contra a comunidade LGBTQ+ no mundo do desporto, advém da construção de estereótipos de género. “Hoje em dia, aquilo que é o desporto valoriza características que são associadas à masculinidade. O ser atlético, o ser forte, a competição. O mundo ainda está estruturado neste binarismo: o que é masculino não deve ser feminino, e o que é feminino não deve ser masculino”.


Para o psicólogo, neste âmbito, os homens veem a sua situação mais complicada do que as mulheres, tendo em conta que as características que a sociedade em geral procura num atleta “perfeito”, assentam nos estereótipos do homem masculino.


Excerto da entrevista ao Doutorado em Psicologia Jorge Gato

Ao ser considerado, à partida, menos atlético ou menos competitivo, o atleta com identidade LGBTQ+ acaba por ser muito mais penalizado pelo erro. Alguém que faça parte de uma minoria social acaba por ter de provar mais o seu valor, ou por outro lado, esforçar-se mais para conseguir uma aprovação semelhante à dos seus pares.


Terry Martins, membro da equipa dos Dark Horses, confirma que a sua equipa foi alvo de discriminação nos primeiros jogos, por parte das outras equipas. Refere ainda que a situação foi atenuando à medida que o coletivo foi melhorando na qualidade de jogo.


Excerto da entrevista ao membro dos Dark Horses da BJWHF Terry Mendes

O insulto e a autorepressão


O insulto é a primeira reação da sociedade perante indivíduos com identidade LGBTQ+. Para Jorge Gato, o insulto surge como uma arma com a qual se pretende “manter a ordem de género” e os papéis do homem e da mulher muito estanques. Muitas vezes, o insulto surge em antecipação: ainda uma pessoa não se identificou, internamente, com uma determinada identidade ou orientação sexual, mas já está a ser discriminada por tal. “Não é uma questão de ser, é uma questão de parecer”. Assim, acaba por não ser propriamente a orientação do atleta que leva à discriminação, mas sim o estigma.


A estigmatização de pessoas com identidade LGBTQ+ leva a repercussões ao nível da saúde psíquica e mental e também, por consequência, a perturbações ao nível do bem-estar geral. Esta diminuição do bem-estar poderá também afetar a performance do atleta, ainda que para Jorge Gato, seja preciso muito cuidado ao fazer este tipo de análises. Um atleta pode preferir esconder a sua orientação sexual de forma a evitar a discriminação. Esta estratégia tem o objetivo de tentar preservar o seu bem-estar e, assim, não prejudicar a sua performance.


Esta autorrepressão consiste num mecanismo de defesa muito racional, como explica Jorge Gato. Afirma ainda que tanto a sociedade em geral como as estruturas do desporto têm um papel fundamental para promover a visibilidade do problema da estigmatização do atleta LGBTQ+, assim como da autorrepressão.


Excerto da entrevista ao Doutorado em Psicologia Jorge Gato

O Doutorado em Psicologia afirma que é preciso dar às pessoas a liberdade de se expressarem no seu local de trabalho – para muitas pessoas, o desporto é esse local - e a Constituição Portuguesa prevê essa liberdade. A discriminação no desporto acaba por comportar, assim, uma dimensão que vai além da esfera social, tratando-se de um problema político e de saúde pública.


Apesar da situação atual, o Professor da FPCEUP, afirma que se têm dado pequenos passos em direção ao combate do problema. Referiu, como exemplo, a presença de símbolos LGBTQ+ nos jogos do Europeu de Futebol que decorreu em 2021. Jorge Gato refere que o simples facto de a Federação Portuguesa de Futebol colocar a bandeira arco-íris na sua página de Facebook pode ter “um poder incrível” para jovens LGBTQ+ que possam não aderir a atividades desportivas por medo de serem estigmatizados e discriminados. Sublinhou ainda que mesmo a figura do homem masculino clássico tem sido desconstruída ao longo do tempo por atletas de renome como Cristiano Ronaldo. As questões estéticas do penteado, do cuidado com a pele, da roupa e mesmo da forma de jogar, levam a que o “modelo masculino” vá ganhando características que, durante muito tempo, eram consideradas femininas.


Imagine os jovens LGBTQ+ que podiam perseguir uma carreira profissional no desporto de competição, quantos estão no “armário” e quantos desperdiçam talentos porque já antecipam aquilo que vai acontecer. - Jorge Gato
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