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  • Foto do escritorAngela Pereira

A jornada da marioneta gigante que caminha pelas crianças refugiadas

A "Pequena Amal" é uma marioneta concebida para caminhar em honra das crianças refugiadas. Com 3,5 metros de altura, esta peça de arte viva - desenvolvida no seio do projeto The Walk - percorreu 8 000 km através da Europa, durante 5 meses, com uma mensagem de esperança.


Little Amal na Turquia | Foto pela Good Chance (AA Photo)

Amal significa esperança, em árabe, e traduz o propósito da sua missão. A viagem da Pequena Amal começou no dia 27 de julho deste ano e terminou hoje. Partiu da cidade de Gaziantep, na fronteira entre a Síria e a Turquia e o destino foi a cidade de Manchester, no Reino Unido. Em cada fase da travessia, a Pequena Amal foi recebida com eventos de acolhimento criados pelas comunidades locais. Foram mais de cem ao longo do percurso e são o produto de colaborações entre municípios, líderes religiosos e organizações humanitárias. Todos os eventos são diferentes quer no conteúdo, quer no local (incluindo óperas, catedrais, mesquitas, um cemitério, salas de concerto, pontes ou ao ar livre), promovendo a interculturalidade através da arte.

A criação desta menina surgiu na sequência da produção galardoada de "The Jungle", uma peça encomendada pelo The Royal National Theatre e apresentada pela primeira vez em dezembro de 2017. A peça foi baseada nas histórias dos fundadores do Good Chance Theatre - Joe Murphy and Joe Robertson - quando criaram o primeiro Theatre of Hope (Teatro da Esperança) num campo de refugiados em Calais, em 2015. A personagem Pequena Amal integrava o teatro, encarnando a representação das centenas de menores desacompanhados e separados das famílias no campo de Calais. Com o sucesso da peça - que instigou o início de uma conversa acerca de humanidade - percebeu-se que a personagem da menina refugiada tinha potencial para mais.


The Walk - O festival artístico ambulante


A necessidade de criar sensibilização para o tema foi a alavanca para o arranque do projeto The Walk. Este juntou vários artistas, instituições culturais e organizações humanitárias para a criação de uma obra pública inovadora e diferente daquilo que foi feito até ao dia de hoje: uma marioneta gigante.

De acordo com o Diretor Artístico da iniciativa - o escritor e realizador palestiniano Amir Nizar Zuabi - o objetivo é destacar o potencial do refugiado, isolado das circunstâncias em que está inserido, e recuperar a conversa acerca da narrativa da crise dos refugiados:


"A Pequena Amal tem 3,5 metros de altura porque queremos que o mundo cresça o suficiente para recebê-la. Queremos que ela nos inspire a pensar grande e agir maior.”


O projeto pretende celebrar a migração e a diversidade cultural, usando a arte como uma linguagem universal que quebra as barreiras da linguagem, da cultura, classe ou nível de educação.


Uma figura de esperança pela crise dos refugiados


No ano de 2015, a Europa foi marcada pelo início do que veio a ser conhecido como a "Crise dos Refugiados". A grande instabilidade vivida no Médio Oriente - consequente da pressão política, religiosa e da violação dos direitos humanos - provocou um dos maiores movimentos migratórios registados em direção à Europa, à procura de proteção internacional.


Nesse ano, através da Grécia e da Itália, entraram mais de 1 300 000 requerentes de asilo em território europeu, sendo estimada a morte de mais de 3 700 pessoas durante a travessia do Mar Mediterrâneo.


Com este o grande movimento de pessoas, foram gerados dois tipos de reação que contribuíram para o agravamento da dificuldade dos refugiados chegarem a território europeu. Por um lado, o sentimento de ameaça levou muitos a seguirem movimentos extremistas; por outro, foi requerido um maior compromisso aos líderes europeus pelo respeito dos Direitos Humanos e pelas obrigações internacionais na proteção daqueles que procuram refúgio na Europa.

A Pequena Amal surge na necessidade de sensibilizar os cidadãos europeus para a necessidade de acolher requerentes de asilo. A marioneta representa uma refugiada de 9 anos que está à procura da mãe, depois de ser ver forçada a fugir do seu país, devastado pela guerra. Com a crise que se sente, existem dezenas de milhares de menores na mesma situação, em busca de um caminho para a educação e para reconstruir as suas vidas.


Com esta iniciativa, pretende-se dar a mão a estas crianças. Para tal, paralelamente à jornada da marioneta, foi criado um fundo - The Walk’s Amal Fund - que é administrado pela Choose Love, um movimento de ajuda humanitária que recolhe ajudas monetárias para apoiar os refugiados, com uma equipa distribuída por 15 países .


Handspring Puppet Company: as mãos que deram vida à Pequena Amal


A Handspring Puppet Company é uma companhia de teatro de marionetas - para adultos e crianças - da África do Sul. Foi fundada em 1981 pelo diretor artístico Adrian Kohler e pelo produtor executivo Basil Jones na Cidade do Cabo, África do Sul. A companhia cresceu durante 40 anos, tendo apresentado trabalhos em mais de 30 países espalhados pelo globo. A peça produzida pelo National Theatre, em Londres - War Horse - estabeleceu a Handspring como uma das companhias de marionetas mais importantes do mundo.


A Pequena Amal, a jovem refugiada síria no coração do projeto The Walk, é a mais recente criação da Handspring. Foi um projeto longo e envolveu dezenas de artesãos e criadores. O seu propósito era percorrer 8 000 km por 8 países com terrenos diferentes. Para construir uma marioneta que respondesse ao desafio, a companhia desenvolveu a Little Amal a partir de materiais robustos mas leves, como cana e fibra de carbono, para que possa ser operada por longos períodos de tempo, em condições variadas. Para lhe dar são precisas quatro pessoas: uma em cada braço, uma a apoiar as costas e outra no interior do corpo, a caminhar sobre andas. O quarto marionetista também controla 'a harpa', uma tapeçaria de cordas que manipulam as expressões do rosto, os movimentos da cabeça e dos olhos.

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