O principal opositor político do governo de Vladimir Putin foi premiado a 20 de outubro pelo Parlamento Europeu. O ativista não esteve presente na cerimónia de receção por se encontrar detido desde janeiro deste ano.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é atribuído anualmente para homenagear pessoas e organizações que se destaquem na área dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
O ativista anticorrupção Alexei Navalny foi nomeado pelos grupos PPE (Partido Popular Europeu) e Renew Europe (Renovar Europa) devido ao seu papel na luta pela democracia e pelos direitos humanos.
No painel de nomeados encontravam-se ainda as mulheres afegãs, a política boliviana Jeanine Áñez, a ativista sarauí Sultana Khaya e a Global Witness.
David Sassoli, o líder do Parlamento Europeu, referiu no seu Twitter que a atribuição do prémio a Navalny se prende à forma como "lutou de forma incansável contra a corrupção do regime de Putin". Sassoli acrescentou que o prémio reconhece a "imensa coragem" que quase custou a vida do ativista e reiterou o apelo para a libertação do mesmo.
Alexei Navalny foi envenenado com Novichok - um agente nervoso criado na União Soviética - em agosto do ano passado, enquanto sobrevoava a Sibéria. Recebeu então tratamento médico na Alemanha, onde esteve durante cinco meses. No seu regresso à Rússia, a 17 de janeiro, foi detido pela polícia no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscovo.
O ativista político acabou por ser condenado a uma pena de prisão de 2 anos e 8 meses por violação da liberdade condicional. Dois dias após a sua detenção, Alexei Navalny divulgou um vídeo que acusa Putin de ser o proprietário de um "palácio" na margem do Mar Negro que terá custado mais de mil milhões de euros a construir. O vídeo de quase duas horas está no Youtube e conta, atualmente, com mais de 119 milhões de visualizações.
Desde a prisão de Navalny, a Fundação Anticorrupção (grupo relacionado com o ativista) e a sede regional de campanha do opositor político de Putin foram ilegalizados pelo tribunal russo por serem declarados "grupos extremistas". A União Europeia condenou a decisão que torna impossível para aliados de Navalny concorrerem em eleições próximas.
Alexei Navalny não é o primeiro prisioneiro político das autoridades russas a receber o Prémio Sakharov. Em 2018, o realizador e cineasta ucraniano natural da Crimeia, Oleg Sentsov foi o detentor do galardão depois de ser preso aquando da anexação do território pela Federação Russa. O realizador recebeu o prémio apenas em 2019, depois da sua libertação (parte de um acordo de troca de prisioneiros ucranianos e russos).
A 15 de Dezembro, a filha de Navalny, Daria Navalnaya, recebeu em nome do seu pai o prémio de Liberdade de Pensamento. Durante a aceitação do prémio, Daria referiu que o seu pai lhe tinha pedido que, no discurso, afirmasse que "não se pode comparar a Rússia ao regime de Putin" e que o país "faz parte da Europa e quer continuar a fazer".
O Prémio Sakharov foi entregue pela primeira vez em 1988 a Nelson Mandela e Anatoly Marchenko. O vencedor do prémio recebe 50 mil euros.