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  • Foto do escritorFernando Costa

Bloco Central: No meio é que está a virtude?

O fantasma do Bloco Central tem pairado nos discursos políticos nacionais. Uns abominam a ideia, outros já lhe piscaram o olho. No passado, o único governo que formou um Bloco Central fê-lo como "solução de emergência" para uma crise.

Rui Rio, em reunião com António Costa, 2018 | Foto: Partido Social Democrata/ Flickr

"O que é a maioria? É metade mais um" - foi esta a resposta de António Costa quando, em entrevista à CNN Portugal afirmou que o objetivo claro do Partido Socialista nas Eleições Legislativas seria conseguir a maioria parlamentar. E, ainda que a ambição seja compreensível, as últimas sondagens não fazem prever cenários em que uma maioria absoluta para o PS se concretiza. Nessa eventualidade, há duas possibilidades - bem mais palpáveis - que permitiriam ao PS governar "tranquilamente": a ressurreição da "geringonça" ou a formação do infame bloco central. A este ponto, quase todos os partidos já se pronunciaram sobre esta última possibilidade, e, notavelmente, as opiniões estão longe de ser concordantes.


Gráfico das Tracking Polls da CNN Portugal

Ainda antes das eleições diretas do PSD, em entrevista ao Público, Rui Rio já rejeitava a construção de um possível bloco central: "O bloco central são ministros do PS no meu Governo ou ministros do PSD no Governo PS". No entanto, afastava apenas a conceção oficial do bloco. Na eventualidade de vencer as eleições legislativas, Rio afirmava "Se eu não conseguir uma maioria à direita, 116, 117 deputados, era positivo o PS estar aberto a negociar comigo". Já no final de dezembro, em entrevista à CNN Portugal, o presidente socialdemocrata reiterava que um "Bloco central ninguém vai fazer". Não obstante, sublinhava que "não havendo uma maioria absoluta, todos devem estar disponíveis para negociar".


Do outro lado, António Costa, em declarações à CNN, afastou por completo a possibilidade de acordo de dois anos com o PSD, para conseguir a maioria. Em causa, estaria a alegada proposta de Rui Rio para um acordo provisório com a duração de dois anos. Costa, ressalvou a falta de "experiência de ação governativa" de Rio e que "o país não precisa de acordos provisórios". Em resposta, Rio assegurou numa publicação no Twitter que nunca havia proposto um acordo parlamentar de dois anos, mas sim um acordo parlamentar de quatro anos, com uma avaliação a meio.



De qualquer forma, António Costa admitiu que o futuro da Governação podia depender do que chamou um "diálogo" com o PSD. Discordando, Rio e Costa acabam por concordar na posição que adotam: bloco central? Nunca. Negociação para encontrar acordos? Talvez.


Mais longe deste "centro", quer à esquerda, quer à direita, a abominação pelo conceito de bloco central é unânime. Para a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, o PSD espera a ajuda do PS para "voltar ao ciclo de privatizações". No evento em que apresentou os candidatos do Bloco às legislativas pelo círculo de Braga, Catarina Martins foi mais longe e acusou o PSD de se juntar ao PS, ao longo do mandato, para "proteger os negócios do bloco central". Já Octávio Augusto, membro da Comissão Política do PCP, referiu que "tudo se encaminha, ouvindo dirigentes do PSD, ouvindo dirigentes do próprio PS com as mais altas responsabilidades, para ambos estarem disponíveis para reabilitar o chamado bloco central de interesses que de má memória tem para a vida dos portugueses".


No rescaldo do 39º Congresso do PSD, sobre as reformas que o o partido tem planeadas para as próximas eleições, Filipa Correia Pinto, cabeça de lista do CDS pelo Porto, afirmou não se perceber se Rio pretende "implementar estas reformas com colaboração e uma coligação com o PS (...) ou pelo contrário prefere fazer essas reformas à direita com o seu parceiro de sempre". Já João Cotrim Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal, afirmou que a construção de um bloco central seria "um erro". André Ventura, presidente do Chega, referiu que o seu partido vai candidatar-se a todos os círculos eleitorais, e afirmou ter o objetivo de "forçar um Governo de Direita" e impedir a formação de um bloco central. No entanto, considera que "um voto no PSD é um voto no PS". Para Ventura, nas legislativas, as únicas opções em cima da mesa são "optar pelo Bloco Central, ou pela Oposição".


Pelo PAN, Inês de Sousa Real afirmou que o partido estaria disponível para entendimento quer à direita, quer à esquerda. No entanto, considerou que "o Bloco Central não é a solução para o país".


O único bloco central da História


Foi no final das eleições legislativas de 25 de abril de 1983, que se formou aquele que seria o primeiro e - até à data - único bloco central da História da política portuguesa. A vitória do PS com 36,11% dos votos, e sem maioria, motivou a formação de uma coligação pós-eleitoral entre os socialistas e o PSD. Dessa forma, o Mário Soares, o líder do PS, ocupou a posição de Primeiro-ministro, enquanto Carlos Mota Pinto se tornou Vice-primeiro-ministro (posteriormente, o cargo foi ocupado por Rui Machete).


Foto: Abílio Santos / casacomum.org

A situação nacional - que acabou por levar à intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) - era de uma crise económica "gravíssima" e pautada pelos aumentos de impostos, congelamento dos investimentos públicos, subida do desemprego, etc. Com o objetivo de conseguir, também, entrar na Comunidade Económica Europeia (CEE), a formação do bloco central revelou-se a forma possível de conquistar a estabilidade política necessária.


Pouco mais de dois anos depois de se formar, o IX Governo Constitucional terminou, aquando da eleição de Aníbal Cavaco Silva como Presidente do PSD, pondo assim fim ao acordo entre socialistas e sociaisdemocratas. Para a História, fica um evento único de entendimento ao centro que, apesar das circunstâncias de crise, acabou por atingir os objetivos a que se propôs.


A crise política, económica e social atual torna o resultado das Eleições legislativas de 30 de janeiro imprevisível, e o pós-eleições é ainda mais incerto. Se a solução para os problemas do país passará ou não pela união ao centro do PS e do PSD num - oficial ou não - bloco central, só o futuro o dirá.

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