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  • Foto do escritorAngela Pereira

Inside Job: um tributo à conspiração

Vivemos num tempo em que teorias da conspiração são abundantes. A ideia de que há uma manipulação constante é mais uma certeza do que uma crença. Mas e se todas essas manipulações não só fossem reais como orquestradas por uma única empresa? Essa é a permissa da nova comédia animada da Netflix: Inside Job.


Foto: Netflix

A série é a nova aposta da Netflix no universo da animação para adultos, fruto do casamento das mentes de Alex Hirsch, conhecido pela série juvenil Gravity Falls (2012) e o sucesso sci-fi da Adult swim - Rick and Morty (2013), e Shion Takeuchi, conhecida também pelas séries juvenis Gravity Falls e Regular Show (2009). O conceito que move a narrativa é a existência do Deep State, uma entidade que controla tudo o que acontece, pelas sombras. E não só monopoliza o que acontece como decide o que se sabe ou o que se oculta.


A ida à Lua, a existência de Atlantis, aliens... todas as teorias da conspiração são reais mas protegidas e dissimuladas por uma única empresa - a Cognito Inc. - que se encarrega de controlar tudo e todos, incluindo tanto pessoas comuns como o próprio governo.


No entanto, a ideia de que os acontecimentos a nível global são responsabilidade de uma organização é construída de forma a perder a obscenidade; pelo contrário, essa ridiculização da obsessão inerente às teorias conspiracionistas e a caricatura do medo de controlo faz o público subtilmente confortável.


A série ganha especialmente pela situação-comédia em contexto de local de trabalho.

A barreira que separa a vida pessoal da profissional é muito ténue, o que leva ao desenvolvimento de laços, à exposição de falhas e vulnerabilidades e principalmente à aprendizagem: com todas as situações absurdas a que as personagens são expostas, são forçadas a trabalhar em conjunto e a lidar com as particularidades de cada um.


As personagens são construídas de forma a chocarem umas com as outras pelos seus ideais e excentricidade, o que lhes dá espaço para evoluírem nas relações interpessoais e a nível individual. Todas têm um traço de personalidade que é espremido ao extremo, fazendo com que, em teoria, tenha tudo para dar errado ao se relacionarem. No entanto, essa disfuncionalidade abre portas para o desenvolvimento de relações que, ainda que apimentadas, não só funcionam como se tornam necessárias.


As personagens refletem o apogeu das inseguranças e dos traços de personalidade particulares que todos tememos. E, ao ver essas hipérboles projetadas num ecrã, acabamos por sentir uma grande proximidade da história de cada um e uma sensação de comodidade.


O ponto forte deste projeto é, indubitavelmente, a criatividade, sendo esta evidenciada por uma animação fenomenal. Contudo, algum do encanto perde-se no excesso de piadas óbvias. Também o ritmo acelerado dos episódios e a curta duração da temporada contribuem de uma forma menos positiva para a experiência. No entanto, tem potencial para se desenvolver e se tornar num sucesso.


Inside Job concede uma forma leve e divertida de encarar a loucura que corre o mundo nos tempos de hoje. Ao validar as teorias da conspiração em cenários cuidadosamente estruturados para evidenciar quão longe pode ir a imaginação, acaba por também salientar o seu caráter lunático e descabido.


Em tempos onde negacionistas lutam contra as evidências científicas, onde se sugere que as aves são objetos de espionagem, onde se vive uma multiplicidade abismal de coisas e se duvida de tudo, é reconfortante poder sentar em frente a um ecrã e rir da nossa própria ridicularidade.



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