O Tribunal Superior Britânico decretou a extradição do fundador do WikiLeaks para os EUA, no seguimento de várias garantias dadas pelas autoridades norte-americanas. Assange enfrenta várias acusações de espionagem e pode ser condenado a uma sentença de 175 anos de prisão.
O australiano fundador do portal de divulgação de documentação confidencial WikiLeaks enfrenta a possibilidade de ser estraditado para os EUA, depois de as autoridades norte-americanas terem dado várias garantias em relação à sua segurança. Entre essas garantias, está a promessa de não manterem Assange numa prisão de alta segurança no estado do Colorado, e a possibilidade de, caso seja condenado, cumprir a sua pena na Austrália.
O Tribunal Superior de Londres (High Court) revogou a decisão tomada por um tribunal inferior em janeiro de 2021. Na altura, o recurso dos EUA foi negado por uma juíza britânica, que considerou que Assange não deveria ser extraditado porque corria o risco de cometer suicídio numa prisão norte-americana. Face à mais recente decisão, cabe agora à ministra do Interior, Priti Patel, supervisionar a aplicação da lei no Reino Unido e tomar a decisão final sobre a extradição.
A noiva do hacker australiano, Stella Moris, disse que vai recorrer "o mais rápido possível" desta decisão, que considera ser injusta. Em comunicado, o secretário geral do Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirmou: “apoiamos [Assange] pelas perigosas implicações que este caso pode ter no mundo, para o futuro do jornalismo e da liberdade de imprensa”. Acrescentou ainda que "caso se mantenham [as acusações], este caso vai prejudicar o papel fundamental dos jornalistas e editores em escrutinar governos e expor as suas falhas”.
Julian Assage foi indiciado pelo procuradores dos ministério público norte-americano por 18 crimes, 17 de espionagem e um de utilização informática indevida, e enfrenta uma potencial pena de 175 anos. Em causa está a divulgação de mais de 700 mil documentos confidenciais sobre a atividade militar dos EUA, especialmente no Iraque e no Afeganistão. Desde 2006 que o WikiLeaks, criado por Assange, opera como uma plataforma onde esta informação é publicada, garantindo ao máximo o anonimato das fontes.
Em 2010 foi divulgado, através do Wikileaks, um vídeo intitulado "Colateral Murder", que mostra soldados norte-americanos num helicóptero a dispararem sobre civis em Baghdad, no Iraque. De entre a mais de uma dúzia de mortos, estavam dois jornalistas da Reuteurs. Este foi um dos casos em que a identidade da fonte que obteve a informação foi descoberta, tendo Chelsea Manning (anteriormente soldado Bradley Maning, tendo mudado de nome por ser trangénero) sido condenada e presa durante sete anos. Manning foi ainda responsável por outros leaks de informação - alguns dos mais famosos alguma vez publicados no WikiLeaks de Julian Assange - como "Cablegate", "Iraq War Logs" e "Afghan War Diary".
Mais recentemente, durante a campanha eleitoral presidencial nos EUA em 2016, o WikiLeaks foi responsável pela divulgação de cerca de dois mil emails da conta do diretor de campanha de Hillary Clinton, que pressupunham que o comité do partido Democrata tinha favorecido Clinton nas eleições primárias.
Assange encontrava-se já no Reino Unido em 2010, quando foi emitido um mandato internacional para sua captura por parte da Suécia, sustentado por alegações de assédio sexual. Segundo o hacker e ativista, estas acusações serviriam apenas como pretexto para permitir a sua extradição da Suécia para os EUA. Assim, em 2012, o fundador do WikiLeaks refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, que o acolheu alegando que Assange estava a ser alvo de repressão política. Entretanto, as autoridades suecas deixaram cair as acusações. Ao fim de sete anos no interior da embaixada, um desacordo com o governo do Equador levou ao fim da sua proteção, e em 2019, as portas da embaixada foram abertas à polícia britânica e Julian Assange foi detido. Atualmente, com 50 anos, encontra-se em prisão preventiva na prisão de Belmarsh, em Londres.
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