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Taylor Swift vs Big Machine Records: o que levou a artista a regravar os seis primeiros álbuns?

Impedida de obter os direitos sobre as suas master recordings, Taylor Swift decidiu regravar os seus primeiros seis discos de estúdio de forma a deter 100% da propriedade das suas músicas.

Taylor Swift. Foto: Eva Rinaldi/Flickr

Foi a junho de 2019 que começou a batalha que opôs a cantora pop Taylor Swift e a sua antiga editora Big Machine Records (BMR). Em causa estariam os direitos sobre as músicas da cantora. Swift - detentora dos direitos das suas composições musicais - foi alegadamente impedida de obter a autoria sobre as suas gravações, e, assim, de conseguir a propriedade das suas músicas por inteiro. Apesar disto, as suas masters foram obtidas por Scooter Braun, manager de talentos, quando a sua empresa Ithaca Holdings comprou a BMR.


Em resposta, Taylor Swift decidiu proceder à regravação de todos os álbuns que gravara com a Big Machine para conseguir 100% dos direitos sobre a sua música.


Contrato e início da disputa pelos direitos musicais


Antes do lançamento do seu primeiro álbum em 2005, Taylor Swift assinou um contrato de 13 anos com a editora de Nashville, Big Machine Records. O contrato concedia a Taylor – principal autora de todas as suas canções – os direitos das suas composições. Desta forma, a artista ficou na posse de todos os direitos relacionados com a composição, letra e música. No entanto, as masters ficaram a pertencer à editora, o que lhes concedia a posse das gravações sonoras propriamente ditas.


Assim, entre 2006 e 2017, Swift lançou, com a Big Machine, seis álbuns de estúdio: Taylor Swift, Fearless, Speak Now, Red, 1989 e Reputation, cujas masters ficaram em posse da editora, em troca de um pagamento feito em avanço no início do contrato. Em novembro de 2018, no entanto, com o cessar contratual, Taylor Swift assinou com a editora Republic Records, pertencente ao Universal Music Group (UMG).


Em junho do ano seguinte, antes de Swift lançar o seu primeiro álbum com a UMG, Lover, foi anunciada a compra da Big Machine pela empresa Ithaca Holdings de Scooter Braun, manager de artistas como Ariana Grande, Demi Lovato e Justin Bieber.

Com o cumprimento do negócio, Braun tornou-se o dono das masters dos primeiros seis álbuns de Swift. A cantora, no entanto, não tardou em manifestar-se sobre a compra nas redes sociais, referindo ter passado anos a tentar comprar as suas masters, apesar de a Big Machine nunca ter acedido à sua intenção.


Em representação da Big Machine, o antigo presidente da editora, Scott Borchetta afirmou, numa publicação no site da editora, ter sido Swift a recusar uma oportunidade de conseguir para si os direitos das gravações das suas músicas. Alegadamente, Swift terá aceite a possibilidade de assinar um contrato com a duração de sete anos em troca da propriedade dos seus trabalhos. Borchetta terá concordado, apesar de ter exigido que o contrato tivesse a duração de dez anos.


A artista, por outro lado, afirmou que recusou voltar à sua antiga editora, tendo em conta que a proposta que lhe foi feita exigia que Swift assinasse contrato com a Big Machine e “conquistasse” os seus álbuns, um a um, por cada álbum novo que fizesse.


Apesar disto, Taylor Swift acrescentouo que sabia que as suas masters seriam, eventualmente, vendidas, em conjunto com a editora. Considerou, no entanto, que o problema maior surgiu quando, a par do resto do mundo, descobriu que o dono das suas masters seria Scooter Braun, acusando-o de “bullying manipulativo incessante” em polémicas como a da representação de Taylor no vídeo “Famous” de Kanye West (cliente de Braun).


Scott Borchetta refutou as declarações de Taylor Swift dizendo ter enviado, antes da venda, uma mensagem à artista a explicar o processo da mesma. Acrescentou ainda que o próprio pai de Taylor, Scott Swift – acionista da Big Machine – conhecia as implicações da transação da editora à Ithaca Holdings de Scooter Braun.


Os seis primeiros álbuns, de novo


Em agosto de 2019, Taylor Swift revelou que iria regravar e lançar os seus primeiros seis álbuns, de forma a conseguir criar novas masters de música antiga e, assim, conseguir a propriedade do seu catálogo inteiro. Esta estratégia faria com que a artista pudesse licenciar a sua própria música e tirar poder aos donos das antigas gravações. O processo de gravação começou em novembro de 2020.


Só em 9 de abril de 2021 foi lançado o álbum Fearless (Taylor’s Version) - todas as canções e álbuns regravados, são acompanhados pelas palavras “Taylor’s Version” de forma a distingui-las das antigas - que acabou por atingir o n.º1 da tabela Billboard 200 nos Estados Unidos e provocou a descida da versão original do álbum da 157ª posição, para fora da tabela.


Relação entre as vendas de ambas versões de Fearless posteriormente ao lançamento da Taylor's Version. Gráfico da autoria de Billboard

A 12 de Novembro de 2021 foi lançado também o disco Red (Taylor’s Version), que se tornou - logo no dia de lançamento - o álbum de uma artista com mais streams num único dia (90.8 milhões), batendo o record que a própria Taylor havia estabelecido com Folklore em 2020 (80.6 milhões). Todas as canções do disco entraram para o Billboard Global 200 e a canção All Too Well (10 Minute Version), tornou-se a canção mais longa de sempre a ocupar o Nº1, batendo American Pie de Don McLean.


No rescaldo do anúncio da regravação da discografia inicial, Swift acusou, em novembro de 2019, os representantes da BMR de tentarem impedi-la de tocar o seu repertório nos American Music Awards of 2019 - onde a artista recebeu o prémio de Artista da Década - e de usar música mais antiga no seu documentário Miss Americana. A BMR recusou as acusações de Swift.


Do ponto de vista legal, o facto da BMR ser a proprietária das masters de Taylor Swift, concede-lhes o poder de vender álbuns, singles e o licenciamento dos mesmos para uso comercial. No entanto, isto não implica, por si só, que a empresa pudesse impedir Taylor Swift de utilizar canções do seu catálogo antigo na atuação dos American Music Awards.


Assim, a não ser que Taylor utilizasse gravações de estúdio em playback, não estaria impedida de tocar as músicas que quisesse ao vivo, tendo em conta que detém os direitos de composição das mesmas.



No entanto, como é prática comum, o contrato de Taylor com a BMR impedia a artista de efetuar regravações das suas músicas durante um determinado período de tempo depois da cessação do contrato (tempo este que contemplava a atuação nos American Music Awards). Desta forma, apesar da BMR não poder impedir Taylor de atuar, podia impedir que a atuação fosse gravada e posteriormente distribuída.


Já no ano de 2020, a Big Machine lançou o álbum ao vivo de Taylor Swift, Live From Clear Channel Stripped 2008. A cantora prontamente declarou não ter autorizado o lançamento do álbum, que considerou um ato de "ganância sem vergonha".


Em outubro do mesmo ano, Scooter Braun vendeu a obra de Taylor à Shamrock Holdings, uma firma americana pertencente à Disney, por 300 milhões de dólares. Swift afirmou que Braun lhe ofereceu uma oportunidade de comprar as suas masters, sob a condição de assinar um acordo de confidencialidade acerca das suas declarações públicas sobre o manager. A cantora acrescentou ainda que Scooter Braun pediu à Shamrock Holdings para não notificar Swift acerca da venda até à sua conclusão e que havia recusado tornar-se parceira da firma, tendo em conta que Braun continuaria a lucrar com a sua música.


As reações da indústria


Ainda que seja relativamente comum existirem casos de conflito entre artistas e as suas editoras (Prince, The Beatles e Janet Jackson sendo alguns exemplos notáveis), o caso Swift vs Braun e Borchetta adquiriu um grau de visibilidade superior. A presença de Taylor nas redes sociais e as suas publicações online sobre o assunto (sobretudo no Twitter) ampliaram as discussões e as manifestações públicas de fãs, profissionais da música e outros artistas.


Por um lado, cantoras como Selena Gomez e Halsey defenderam a postura de Swift e apoiaram o direito dos artistas deterem os direitos das sua música. Olivia Rodrigo revelou ter negociado com a sua editora a propriedade das suas masters depois de observar a batalha de Taylor Swift. Joe Jonas manifestou também vontade de regravar a discografia mais antiga da sua banda, Jonas Brothers.


Na trincheira oposta, estiveram artistas como Justin Bieber e Demi Lovato (clientes de Braun) que defenderam o manager.


A disputa sobre os direitos da música de Taylor Swift tiveram também repercussões que foram além da indústria musical. A Universidade Rafael Landívar, na Guatemala, recebeu uma conferência sobre o tema "Proteção de direitos de autor internacionais: Analisando o caso de Taylor Swift".


Também durante o período de campanha para as eleições do estado de Virginia nos Estados Unidos, o candidato Terry McAuliffe utilizou publicidade negativa nas redes sociais para associar o candidato Glenn Youngkin do partido Republicano à compra das masters de Swift por Braun. Esta estratégia esteve relacionada com o facto de Youngkin ser co-CEO do The Carlyle Group, o principal patrocinador da aquisição da BMR por Scooter Braun.


A revista de musica Rolling Stone, considerou ainda a disputa um dos 50 "momentos mais importantes" na indústria musical da última década.

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