O jornalismo tem de ser pago e, acima de tudo, bem pago. É absolutamente necessário garantir que os trabalhadores do “quarto poder” veem garantidas as condições para desempenharem o seu papel de forma competente, exata e isenta. Uma das mais poderosas ferramentas para impedir o corromper da informação e simultaneamente assegurar o seu valor é garantir a estabilidade laboral dos jornalistas e a eliminação da necessidade de estes procurarem vias alternativas de garantir o seu bem-estar. As grandes empresas detentoras de grupos media têm indiscutivelmente a obrigação de providenciar a estes profissionais essas mesmas condições. Se, como cidadãos, exigimos informação de qualidade, temos também de exigir salários e condições na mesma linha para quem a produz.
Chegar à página online de um órgão de comunicação social e ser surpreendido por um paywall ou enchentes de publicidade pode ser desagradável e incómodo, mas o jornalismo, apesar de, acima de tudo, ser serviço público, não deixa de ser isso mesmo, um serviço. E qualquer serviço tem de ser pago: se até a o abastecimento de água nas nossas habitações é (infelizmente) pago, porque não havia a informação de o ser?
“Atualizado ao minuto”: é tudo com que sempre sonhamos. Na palma da nossa mão, no nosso bolso, connosco a todos os segundos – a informação chega-nos a um ritmo absolutamente estonteante. E se a era digital permite que assim seja e que o imediatismo seja o ónus da forma como nos informamos, também abriu o precedente para que as redações se tornassem num epicentro de instantaneidade e rapidez, povoado por um exército de profissionais que têm como objetivo cruzar a meta e "dar a notícia primeiro". É sabido que depressa e bem, há pouco quem. E há também pouco quem esteja disposto a realizar um trabalho de qualidade a este ritmo e com este tipo de pressão em troca de, maior parte das vezes, pouco mais do que o salário mínimo.
Este fenómeno é especialmente notório nos jovens jornalistas recém-formados que, aquando da já venturosa entrada no mercado de trabalho, são surpreendidos com uma relação abusiva sustentada por recibos verdes e a ausência de certezas para além da precariedade. É urgente garantir que o jornalismo é feito também por e para jovens adultos, que cresceram e viveram num mundo que se figura já muito diferente face ao de gerações anteriores. Temas e abordagens atuais, que façam sentido neste mundo novo e que tenham em conta as recentes dinâmicas socioeconómicas são uma necessidade que poderá apenas ser satisfeita pela mão de jovens profissionais, que precisam de segurança e estabilidade no emprego para nele se manterem.
Desengane-se quem julga que a precariedade no setor da comunicação social é um problema apenas para os jornalistas. De forma talvez um pouco egoísta, figura-se aqui uma situação em que este apanágio dos profissionais da informação tem repercussões ao nível da sociedade como um todo, na medida em que informação de fraca qualidade tem, tal como no reverso da moeda, poder. Como em qualquer outra profissão, trabalhadores mal pagos e sujeitos a condições precárias vão-se mostrar menos incentivados a desempenhar as suas funções, e ainda mais suscetíveis a pressões externas. Não podemos, de forma alguma, permitir que os jornalistas - com o papel tão basilar que têm para a manutenção da democracia- estejam sujeitos a este tipo de situações.
O enviesamento do jornalismo é uma arma política perigosa, da qual nos temos de defender, nomeadamente através da valorização das carreiras dos profissionais do jornalismo. A procura pela verdade tem um preço, mas ainda assim não tem direito a contrato.
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